quarta-feira, 26 de outubro de 2011

o poema

da próxima vez que me perguntarem
respondo o mais idiota possível!

não interessa o que eu andei pensando
nos últimos dias.

na maior parte dos últimos dias
eu não andei pensando em nada

e de tanto nada que pensava
o nada meio que me preenchia
e eu olhava as coisas daquela forma

e via, eu via!
o muro de pedra tijolo
aranha teia da pulga
a fuga força, o vôo

barata tonta biruta.

Rimas vazias
e rimas avulsas!

E de tanto nada, já não me importa
o que sacode o epitélio frouxo
mas o que sulco macio de consistência
escorre dos astros invisíveis.

se me perguntarem,
eu afirmo
e sigo vago em reticências
e sem medo.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

nadando


Poesia é o que não serve pra nada!
não podia ser diferente
um amontoado de palavras dadas
nada demais.

Um final de tarde
um sinal de trânsito
é um nem pensar
na curva do que nem está sendo

é um trânsito de sinal
esta tarde de final
um se perceber

caminhando

numa rua de outono
rubricando assobios aos
pássaros passantes.

é um mar e um
corpo pra mergulhar.

poesia não é nada
é nadar, é nadar...

terça-feira, 20 de setembro de 2011

diz com texto

Para quê trabalhos viscosos
sem o teu sorriso a meu lado?
para quê estes gritos medrosos
para quê?

saio à rua desinformado
sem partido na multidão
cada qual num itinerário de ilusão.

Para quê sol, para quê praia?
para quê pés em vãos?
E esta fome por justiça
se a janta nunca me falta,
para quê essa limitada paixão?

Ah não.

Eu estou compondo loucuras!
as pessoas riem de mim pelas ruas
pronde quero navegar..
se o real é tão vazio

e se mesmo a mais sincera doçura
é no fundo tão sómente a chama dum pavio?

Explosão!

O vento nasce do chão e sobe
lavando cabelos, vestidos e cores!
pirulitos ficam jogados
sem uso!

Ah, minha frouxa exclamação!

Quisera salvar-me a humanidade
no risco certeiro dessa pontuação


E onde esteve o teu erro?
não houve erro!
o engano mais dramático
a ausência num mundo volátil

talvez livros demais
talvez excesso de mãos.

Mas não é tempo de choro,
mas de se manter acordado;
há algo que espera algum tipo de volta
(ou revolta)
algo que se conserta
algo que se aperta - como tecla

Algo que não tem perdão.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Sim

Sim,
nós estamos felizes.

Estamos agradecidos por vivermos aqui
... viemos de longe
e é saboroso o apontamento em nosso fígado
nos dizendo onde chegar.

ensinando a nunca parar
de esvaziar os sentidos,
criando-nus nossa raça,
mulheres-pedra-serpentina
a moralidade da pedra
em sujeitos móveis,
a tranquilidade d'água em fluir.

Sim,
é saboroso ver os enganos tão evidentes
a todos escancaram-se as portas do Sol
E alguns são estuprados por Sol
ainda assassinados pelo Sol
e outros abandonados

Mas o Sol não deixa de falar
na linguagem de aquecer e esfriar
onde está o seu caminho.

E é tão claro seu idioma
que só o enxergam os mais vazios
com os olhos da face arrancados
as crianças
pingam nas poças da chuva,
esparramam se fazendo aurora
boreal.

Sim,
o mal agora é tão somente ignorância
de um princípio, um meio e um final.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

engatinhando


um poema como um gole d'água
quisera..
navegar a película do líquido mátrio
visitar suas vicissitudes
mergulhar em gota-a-gota
                         sua concha
incolor fragrância do segundo

como um beijo de mulher
de lábios macios arrastados
      no tempo
como se vivesse além das horas
caso se ocupasse espaço
voando ao vento...

Ora,
das cores nos restou a cólera!
e o coração a preparar a guerra
E todo diminuto completo se esvai?
pela barra dos dedos
a areia mole
pinga em nosso peito
desenhando tecidos iguais
a nos escorrer costelas.

Dessa carne vermelha tingiram-se nódulos,
cancerígeno projeto das metrópoles
                                        e as cópulas,
apressadas
reproduzem os filhos d'Acrópole enganada
de centro.

Meio de sim,
meio de nada

a poesia rebola
entre morte e vida severina;
proponhamos amor e paz?
ou o suicídio apocalíptico?

O poeta empunha a caneta,
na ansiosa busca por beleza
                                           mas
Punheta!
pois seu ócio ofusca um gatilho.

sábado, 13 de agosto de 2011

sábado, 30 de julho de 2011

habitação )



a vida nasceu há pouco
tímida e apaixonada
como beija flor

a tinta pintou-se agora
antigo corpo lembrado
buscando assumir-se.

o vento assobia eterno
riscando a sequidão dos anos
nunca é tarde, nunca é cedo
o tempo sopra.

coração é coisa vaga
frágil tambor alçante
vodu de sangue a agulhadas
mais resistente de um sonho.

poesia copa de árvore
moita escondida no céu
habitada por tudo que vive
quer barulho ou silêncio

simplesmente habitada.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Poema da Ervilhinha




vupt
vupt vapt

vupt vapt, me bate o vento da tarde.
vapt vum
vemtu comum.

Vem vai-te folha rasteira,
avoa, avoa.
Desintegra-te em vãos corpúsculos da poeira
de floresta.

Que rega as pétalas das flores, dia a dia,
com seus corpos em desmanche.
Seus internos gases que perfumam em liberdade
uma nova manhã.

Ali a vida nem parece que morre, gente!
É ali onde o vento nasce à vontade,
brota do espaço vazio, vem sei lá de onde,
uma energia!
Que sai brincando e cantarolando seus movimentos,
remexendo toda a campina preenchida.

Cada uma destas partes de ser
dialoga com todo o seu mundo.
Se coloca perante todo o seu mundo,
e o recebe em seu jeito.

Qual a sabedoria da ervilha?
Que não fala, não pensa, não ama?
Alimenta a tessitura de leves conflitos,
dos quais absorvemos o falar o pensar e o amar.
Que sabedoria tem essa carne verde de ervilha
que decidiu comigo se relacionar?

Me componho, saboreio,
eu lhe como, oh ervilhinha!
Mais um pouco e a ouço sussurrante,
vem num gosto, vem num modo de me ser,

em me fazer feliz ou morrer

- Ei seu moço!
O alimento me pergunta:
- Sabes tu o mundo em que quero viver?

segunda-feira, 27 de junho de 2011

amor Tao




o poeta é um arquiteto de demônios
dentre plumas pinta mortos, pinta sonhos
mal se arruma sob um teto de memória
segue o prumo de um vento ignoto.

é translúcida a sua tela vertical
de petúnias adornado o desespero
e as calúnias não são mais que o tempêro
do marulho transformado em mistério
imortal.

mas se a teia do ventrílouco desfaz
vê-se ao fundo uma criança sorridente
traz aos punhos uma flor e um canivete
a menina que não quer nada demais:
um mortal.

que se joga precipícios arranhados
força trancas sob as pernas do sol
é só gente o tal ser despreparado
procurando entre as letras o farol...
imortal.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

vida

gosto disso de fumar próximo a precipícios
pois dali tudo que se joga some
pois ali jamais me apanharão em flagrante

terça-feira, 31 de maio de 2011

Consumação



Nosso plano é destruir o amor!
queremos sua morte mais completa.
Ramas valentes equívocas boiando em despedida triunfal!

Queremos o amor partido em frangalhos desarmonizados.
O amor comedido desprotegido e desajuizado

calado!

colado à flor da pele únua...

Queremos noites de segredos voantes em destreza rumo à lua!
em oferendas comunitárias o coral da gente e a cigarra
esfumaçada na fogueira do sonho medieval.

Que nossos corpos cantam rubras asas em perfil!
queremos os olhares desmedidos, inimpossibilitados

radiante centelha.

queremos perdurar além da noite cega..
Sim, o permanente brilho nesse mundo anil
vocifera nosso sonho sonilundo des-
cansando à beira-tarde Abril.


e tse toca no que vive
meu amor ligeiro é livre

Pra seguir te amando eternidade!
se apaixonando a cada instante no que arde...
bem dizendo a avulsa e plena fidelidade

Dizes-me adeus?! Sou ateu!

meu amor derrama pela terra
não contenho tua beleza em meu peito,
- nem me peça!

Que um canto assim guardado de mal jeito
funde acordes dissonantes em espera.

terça-feira, 10 de maio de 2011

mão

(drummondiando)

Nos seixos enrugados da cratera

algo como gigantes mãos
- marrons...
escalavam o mineral.

Algo como uma leve névoa
a levitar-se ao vento
ao transportar-se em tempo.

Sujos dedos sem rosto!
persistente bicho escarnecido.

(ou nuvem, ou viagem, ou vegetação)

Quando fundo corpo em questão...
morre-se com o mundo.
e re-aflora-se noutra linguagem
ou dimensão.

Somente o próprio vazio
pode nus trazer de volta.

e o amor de ser pelo mundo
é o amor do mundo por ser.


Estou de pé na medida em que amo
alguma coisa..
flora de mim.

Que mão tem a ver comigo,
e por isso...
vem se ver comigo
o castigo
correto
em voltar
de frente.


mãos entrelaçadas (portinari)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

página


tarde çem poemas sól paz-
ceia tonalidades no céu.
henrique chama leandra
de 'minha negra'
traga a cerveja gelada
e a poeira do fundo
para nus jantar.

astrozoários circunsimfláuticos
protagonizam o crepúsculo.
vaza da pamela de pressão
a umidade salivar.
passos firmes e soltos
pisam folhas secas na
trilha flor-resta mundo.

amor, Amar é uma deusa
vermelha bem no auge dá
amizade solitária
de quem chora.

o poder nasce da Fraqueza
de sofrer e Se aceitar

tendão

O meu filho já nasceu
dentro de mim.

E lhe embalo toda noite
em cantigas de ninar.
E lhe acaricio a pele
no corpo de sua mãe.

 
E lhe construímos casa
trabalhando todo mundo.

terça-feira, 19 de abril de 2011

galo da cidade

(à partir Pelada Poética do Leme)

galo cacareja na cidade!
É cedo, galo...
Ninguém pegou.
Dia seguinte galo cacareja!
Não há galos hoje galo,
calo... ninguém sonhou.

Passou-se um mês
outro galo então cacarejou!
Eu estava cansado...
ele se cansou.

Quando pensavamos compromissos
A vida ficou...
para outro dia.

Quando enfim voltamos pra vida!
Já ninguém nos esperando havia...

E a vida morreu,
(numa tarde de abril)
e nós seguimos;
com sorriso e sem poesia.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

plano

03 Milagre dos Peixes

Abro a folha do caderno para
resolver os problemas d'universo!
- Num verso, num verso...

Viro a folha do caderno para
insistir com a caneta velha.
E o poema já tem dois'versos...
- dois'versos mal resolvidos.

Eu persisto mais um pouco,
e meu plano já é triângulo
- fechado!

De onde só o amor e a beleza escaparam..

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Vidação Canção

nosso tempo confirmou
veja vento vem ventar
que o que é Sol é dia inteiro
precipita na Montanha
tudo nu que é álgua morna
e as gotas a si unem
 

eu Rio caiu em már.

vão às asas os morcegos
quem é cego quem é trôpego
?olhos noutra dimensão?
e o que existe nessa Vibra
(seja riso, seja sôfrego)
ceduação ressoa reação.

domingo, 27 de março de 2011

esboço em sorriso

 ( à 8 de março)

mulheres não penduram,
como homens...

Homens penduram...
acumulam-se gravitacionalmente.

Quando viram-se os olhos,
veja longe!
lá se vem a atenção.

Quando sentam-se os órgãos demora alguns segundos a inspiração.

Mulheres não!

Mulheres não penduram,
ocupam-se e se movem
sorrateiras
perfeitas esgrimas finas

incontidas na Vastidão.

E devassidão em vassidão,
caminham planetas
caminham glórias reprimidas

em sorrisos resistentes..

mulheres são.

Abruptas estandartes da vida,
onde hacalma silenciosa em meio à devastação?

Crentes de alguma coisa me esquecida
caminham dedos nas faces do futuro,
estes seres que me carregam um segredo.

De esboço em sorriso
flagrar-me oxalá um Mundo.

terça-feira, 15 de março de 2011

marcando o passo


ontem eu me matei
de novo.

Ferro serpente esguiando-me os órgãos do corpo.
Um Dentro que langorosamente penetrava-me
e ardia-me, e curava-me.

Ontem suicidei mais uma vez.

Ajoelhei às noz'es da terra,
vozes crocantes explodindo melindrosas melaninas!
Adriana'linas! sinas!
finos sinos!

aguda profusão de luz
radiada a buscar Exato
'num sei quê'.


Hoje eu já não estou aqui, só.
sai por ali e nunca mais voltei.

porque fui prali pra dentro
de onde jamais estive, fora.

Não voltei nem voltarei.
porque nunca parti

mas Uni, o sim e o não.

Não volto porque não parto...
farejo-me Inteiramente
no futuro e no passado.

- Sagrado.

Nem saio porque nem cheguei!
sou somente este pequeno passo
num mesmo lugar

de amanhã.

sexta-feira, 4 de março de 2011

dionisíaco - um penúltimo dia.

(em agradecimento ao Teatro Oficina)

se Dionísio é luz que esconde
na planície clara da luz onipresente
radiante em feixes tortos que se enlaçam
enroscam pois se reconhecem...

então Entrar é a melhor forma de sair..
e sair, a melhor forma de estar.

Os espíritos andam fugidios
das esperanças mórbidas.
Sonhos que já nascem mal sonhados
pois decapitam-se as pernas.

que sustentam.

Oh, a perna que levanta!
e que escorre-se de caldos,
doces sulcos de nossos sais!
compostos em amor e luz!

Se dionísio cheira a luz que me drena,
então já não sou nada.
E quão maravilhosa é a inexistência do poema...

me sentir pedra voando em direção exata.
Aonde minha mão me lançar,
Aonde tua mão nos puxar...

e cairemos nesse mundo,
Nós assim, de boca.
O romance nunca morre!
é como a deusa Primavera


invencível aos olhos dos mortais,

mas vazia como o carro verde do palhaço.
E cheia de si, em risos e sapatos largos,
nos aceita e nos carrega
aos meridionais confins dos céus da terrA!

---

para o bem da vida,
matemos a morte.
sim, pela poesia...
assassinemos o poeta.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

perto da poesia

ah meu bem.
Está tocando clube da esquina!
já sinto como que por magia
o cheiro da chuva

mineira,
e a claridade vaga de nosso quarto.

Tenho nas mãos a alegria
acesa,
e a trago demoradamente
nos plenos pulmões Da
juventude que me habita.

Quão saborosa é essa lembrança,
tal certeza de que a vida
vale a pena de te amar.

Te despir-me.
te despedir-me.
para sempre...

Te aguardar
noutras carnes
me enlaçar
num reflexo de ti,

a criança que eu vi
este homem que eu sonho
vegetal que eu me lembro
mineral que te compõe,
estes sonhos que te calam
estas fugas que te salvam
Nesses peixes que tu pesca!

?Quê do mundo
há de poesia?

Ah!
saudade já morta,
Que apresço!

Quem me ensinou
a ser de mentira
me esqueço.

Mas vive e pula
nadando em minhas letras
, invisíveis,
as meninas e meninos que conheço.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

poema da caverna

(ou 'Passo')
(aos enigmas d u mond)

Poemas escorrem aos olhos da cidade,
escuro gotejar ritmado e vazio.

Poemas se escondem nas roupas da tarde
e se mordem nos cantos, os cantos do rio.

Se o quê do sentido
, pó de ser decifrado,
dança nas cabeças de quem pisa;
navega então nas formas da beleza
- o que do peito nasce aos ouvidos -
Aquilo que em meio às ondas do mar
delineia a margem dos oscílos.


O poema se fragmenta...
dentre os vários relatos do giro.

Mas os poetas
, bestas de caçar essências,  (armados com suas cascas)
teimam em vir amarrando os fios..

A Poesia grita do fundo!
- estou aqui!
- tenho tanta sede!

Já o poeta, este sujeito mu do,
segue avançando
apalpando paredes